Na imagem, Dr.ª Conceição Feitosa Lins (esq.), Membro da diretoria da AMPOL, participa da solenidade de posse da Dr.ª Claudia Alcântara (dir.), 1ª mulher à frente do SINDEPO/DF empossada no dia 01/12/2022. Confira a entrevista exclusiva gentilmente concedida por Dr.ª Cláudia ao site da AMPOL
- Nos conte um pouco como foi o início de sua jornada na PCDF como escrivã em 1986. Era muito difícil ser uma policial feminina nessa época?
Eu ingressei na polícia civil e fiz o curso de formação em 1985. Foi um concurso para escrivão com 80 vagas e eu fui a 13ª colocada. Naquela época eu achava que ser escrivã era uma função mais tranquila, eu era muito jovem. Eu optei por ser escrivã e a coisa que mais me chamou atenção foi fardinha usada na formação: uma blusa branca uma calça preta, um sapato preto mocassim e meia branca. Eu achava esse uniforme lindo! Então o que mais me atraiu foi o uniforme. Em 1985 eu fiz a formação e em 1986 tomei posse. Eu fui empossada juntamente com mais 14 escrivãs e nós fomos lotados na 1ª DP. Lá a maioria dos policiais estavam se aposentando. Logo depois da minha turma de escrivã, veio uma turma de agentes de polícia, delegados e papiloscopistas, todos muito jovens. a Tomar posse significou uma ocasião de muito orgulho em pertencer a instituição Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). Naquela época o processo sumário se iniciava na delegacia, procedimento extinto com a Constituição de 1988. Hoje o processo sumário se inicia no judiciário. A experiência como escrivã foi extremamente importante para a delegada que eu sou hoje. Porque hoje eu sou um pouquinho de cada delegado e delegada que passou pela minha vida profissional.
- E sua trajetória como delegada a partir de 1999? O que te impulsionou a avançar na carreira policial e quais os principais enfrentados como delegada?
Tomei posse como delegada de polícia no concurso de 1999. Foi um concurso nacional muito difícil, realizado pelo CESPE-UnB. Os exames eram elaborados por desembargadores, procuradores e um delegado. Passávamos por quatro bancas (uma de processo penal, uma de direito administrativo e uma de direito constitucional) e nós tínhamos que ter nota suficiente em todas as matérias senão éramos reprovados. Eram 144 vagas para todo o Brasil. Mas o que me impulsionou a fazer esse concurso foi o fato de eu ser escrivã já há muito tempo. Você sente necessidade de fazer um pouco mais. Eu já sentia falta de fazer parte da gestão e tomar decisões, isso me impulsionou a prestar o concurso. Eu já era formada em administração de empresas e tinha especialização na área de treinamento, seleção, recrutamento e gestão de pessoas. Então eu percebi que, sendo delegada, essas formações juntas iriam contribuiu muito para a instituição Polícia Civil. Eu entendi que precisava ser delegada de polícia para implementar todos os objetivos e metas que eu tinha e tenho para a instituição.
- Conte-nos um pouco de sua experiência no GDF tanto na Subsecretaria de Inteligência como na Secretaria de Justiça.
Eu era diretora da Academia de Polícia Civil do Distrito Federal (hoje a Escola Superior de Polícia) e fui convidada pelo diretor-geral da PCDF para ir para a Subsecretaria de Inteligência, porque essa subsecretaria sempre foi ocupada por um delegado de polícia civil. Eu disse que tinha interesse, até porque no ano de 1999 eu já tinha feito várias formações na área de e inteligência policial e me senti apta a ocupar a função. Até porque a gente não pode deixar de ocupar os espaços que pertencem a nossa instituição. Fui para Subsecretaria de Inteligência e lá passei a transmitir as informações necessárias municiando o Secretário de Segurança para que ele pudesse antever quaisquer situações que pudessem prejudicar tanto a administração dele quanto do governador. Depois fui convidada para ser Secretaria de Justiça do GDF e acabei aceitando essa função. Eu cheguei na Secretaria de Justiça, em um período extremamente complicado, logo após o Operação Caixa de Pandora. Foi durante o governo de transição na Câmara Legislativa quando o governador Wilson Lima ocupou o cargo por três meses até a eleição governador Rogério Rosso. Assim que o Rosso assumiu, eu entreguei o cargo. Não foi fácil gerir a secretaria porque tudo estava sob suspeita e o órgão tinha vários braços políticos. Depois eu voltei para a Polícia Civil e aí fui nomeada Chefe da Assessoria Institucional da PCDF e, posteriormente, Corregedora Geral da PCDF.
- O que a motivou a se candidatar à Presidência do SINDEPO/DF?
Nunca tinha passado pela minha cabeça me candidatar para presidir o Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do DF (SINDEPO/DF). Minha intenção era me candidatar a vice-presidência da Associação dos Delegados de Polícia do Distrito Federal (ADEPOL /DF) onde o Dr. Amarildo Fernandes seria o presidente, isso já estava certo. Eu não pensava em sindicato, eu pensava em associação. Mas vários colegas delegados e delegadas me disseram que o sindicato estava em uma situação complicada e era preciso colocar uma pessoa que fosse aceita pela maioria dos delegados afim de promover a união da categoria, considerando que os delegados estavam muito divididos.
Eu não pensava em me candidatar, mas eu resolvi dormir à noite, rezar e quando acordei pela manhã eu tinha certeza de que eu deveria me candidatar ao cargo de presidente do sindicato e trabalhar pela união do grupo. Eu disse a eles que iria me candidatar, mas que eu precisaria fazer uma composição entre a chapa que estava pretendendo concorrer e a minha e, dessas duas chapas, fazer uma chapa única. Dessa maneira eu uniria a categoria, porque daí eu não seria candidata de uma parte dos delegados e sim eu seria presidente do sindicato de todos os delegados. Aí comecei a trabalhar muito em cima dessa composição e, quando eu achava que já não era mais possível, conseguimos compor com a outra chapa e formamos uma única chapa. É por isso que eu digo que o nosso sindicato não é um sindicato de um grupo de delegados, é um sindicato para todos os delegados da PCDF.
- Quais as principais metas de sua gestão à frente da SINDEPO/DF?
As nossas principais metas são a recomposição salarial, a valorização do delegado de polícia e a união dos delegados de polícia civil. Temos também a meta de sermos um sindicato voltado para apoiar as prerrogativas dos delegados. Tanto é que nós estamos formando uma diretoria de prerrogativas e essa diretoria deve ser forte para atender o delegado 24 horas. O nosso delegado não vai mais se sentir só. Quando ele tiver alguma questão que envolva outros órgãos, a diretoria de prerrogativas, assim como a diretoria executiva (da que eu faço parte como presidente), vão estar à disposição do nosso filiado. Nós vamos fazer, inclusive, uma matéria colocando o nome de todas as pessoas que ficaram nessa escala 24 horas e o número do telefone para o delegado possa fazer a sua ligação quando entender necessário. Vamos também fazer uma reunião com o presidente da OAB para tratar dessas prerrogativas e tentar ajustar, de forma muito profissional, a relação entre delegados e advogados.
- A seu ver, qual a importância da AMPOL para as mulheres policiais?
A AMPOL é uma entidade extremamente importante, não só para as mulheres, mas para todos os policiais. Isso eu falo sempre porque é uma associação que tem representatividade nacional no Congresso. O peso é muito diferente de um sindicato que representa apenas uma unidade da federação. Quanto mais nós fortalecermos a AMPOL melhor para todos os policiais do Brasil.
- O que a dra. diria para as jovens que desejam ingressar na carreira de policial?
A carreira policial é muito interessante porque trabalhar em investigação é uma coisa apaixonante. É tão apaixonante que nós temos várias instituições que querem o poder de polícia para investigar e outras tantas que já estão criando as suas polícias, de tão apaixonante que é a investigação policial. O que eu digo para as pessoas, tanto mulheres como homens que querem ingressar na carreira, é que eles têm que se perguntar: O que eu quero? Eu tenho perfil? Isso vai me fazer feliz? Porque o importante é você desenvolver uma atividade profissional que você goste, principalmente em se tratando da polícia civil. Porque nós temos altos e baixos no tocante às nossas questões salariais. Eu posso dizer isso porque já estou na instituição há mais de 30 anos e sei que, em alguns momentos da nossa carreira, nós tivemos piso salarial muito bom e agora nós temos uma faixa salarial extremamente defasada e pessoa tem que levar essa situação em conta. Porque quando você desenvolve uma atividade profissional que você gosta, você consegue aguardar com serenidade o momento em que essa questão salarial será recomposta. Agora se você não gosta, aí você vai trabalhar extremamente infeliz, vai tentar a todo custo fazer um novo concurso, vai procurar uma carreira que te pague melhor, mas não vai ser feliz. Se não é uma coisa que você quer de verdade e você só quer fazer um trampolim, é melhor optar por aquela atividade que você deseja. Mas se você já decidiu e tem esse perfil, então estude muito, se prepare fisicamente e não desista dos seus sonhos porque a vida é feita de sonhos. Quer ser um delegado de polícia? Então se dedique a isso, foque nisso e aí o seu sonho se realizará, sem sombra de dúvidas, porque tudo é feito pela vontade de Deus, mas Deus também espera que a gente faça a nossa parte. E é isso que eu tenho que dizer para as pessoas que pretendem ingressar nessa carreira maravilhosa porque a PCDF é reconhecida nacionalmente, em todos os aspectos, como a melhor polícia civil do Brasil.
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