Efeitos psíquicos, espirituais e sociais pós-coronavírus

Por Isaac Tavares

Há algumas décadas vivemos o crepúsculo da solidariedade, mas pode estar próximo o anoitecer desta. O Covid-19 nos sinaliza, além de outros efeitos psíquicos, sociais e espirituais.

A neurobiologia cerebral pode nos esclarecer. A ocitocina (ou oxitocina) é o neuro-hormônio das relações sociais e do amor (as mulheres têm em abundância, assim como as leoas e outras fêmeas mamíferos para o cuidado da prole). Este neurotransmissor une as pessoas, as famílias e os grupos sociais.

Quando aperto a mão de alguém, abraço, beijo ou olho nos olhos, ou mantenho um diálogo afetivo, a produção e circulação da ocitocina dispara, gerando uma recompensa cerebral, que, por sua vez, aciona outro neurotransmissor, a dopamina, isto é, o prazer do convívio.

Além, da ocitocina, há a vasopressina (bem abundante no sexo do mamífero macho), que todos nós temos, assim como a ocitocina. E, de igual modo, a vasopressina está relacionada ao amor romântico e a convivência para a formação das famílias e continuidade da espécie.

Ainda neste cenário cerebral, existe o circuito dos neurônios-espelho. Circuito responsável pela solidariedade entre outras funções.

Neste sentido, existe um diálogo cerebral entre a ocitocina, a dopamina, a vasopressina e a rede de neurônios-espelho, além do envolvimento da serotonina (bem-estar).

A ausência desta “conversa” intracerebral reduz nosso potencial de interesse de relacionamentos sociais, de amor ao próximo, da empatia. Gera o embotamento afetivo (comum na psicose).

As medidas governamentais, no país e no mundo, são corretíssimas para a proteção da população. Não há outro caminho. Claro que a curva de contágio vai crescer durante um tempo para depois ocorrer o achatamento e declínio. Só o tempo dirá. Cada país terá o seu nível de providências.

Onde eu pretendo chegar é no pós-pandemia do Covid-19 na sociedade mundial.

A redução da ocitocina no organismo nos leva à agressividade e a atos impensados, como no transtorno explosivo de personalidade. Ou seja, a tendência à agressividade e à violência poderão dar um salto na população. Nesta ponto, também, a vasopressina (amor romântico) terá o seu declínio entre os companheiros (se estiverem isolados).

Este cenário será um portal para o agravamento de transtornos psíquicos fóbicos e neuroses de hipocondria. Incluiu-se aqui o crescente da criminalidade e a ausência de sentimento de culpa na queda da ocitocina e disfunções no circuito dos neurônios-espelho.

Jesus nos alertou: “quando vier o Filho do Homem encontrará fé na Terra?” (Lc 1-8).
Sabemos que a fé tem vínculos com as emoções, logo, emoções conturbadas se refletem na fé.

O cenário pós-coronavírus não será animador. Se a ausência de qualidade emocional no mundo atual é muito ruim, será pior. Hoje, temos, segundo a OMS, quase um milhão de suicídio por ano.

Claro que essa pandemia irá passar e outras poderão surgir, mas os danos emocionais e sociais se tornarão irreparáveis (devido à necessidade do isolamento). Pois o primeiro ambiente de mutação é o cérebro, e ele se adapta às novas condições sociais, mesmo que seja uma adaptação tanática (negativa, mortal). Assim, entraremos no anoitecer da solidariedade sem percebermos.

O mal-estar na civilização se tornou pior que as perspectivas de Freud.

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