Ontem (27) o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, por mais de uma hora e meia, respondeu às perguntas dos jornalistas que compuseram a bancada do programa de Entrevistas Roda Viva, com apresentação de Vera Magalhães.
Sobre o papel da PF, o diretor fez questão de destacar a imparcialidade e autonomia do órgão para investigar de maneira técnica e responsável.
“Hoje a PF não faz entrevista coletiva, é uma polícia que não pré-condena ninguém e não expõe as pessoas investigadas. Nós prendemos mais de 9 mil pessoas em flagrante e cumprimos mais de 2 mil mandados de prisão somente em 2024 e vocês não viram a imagem de nenhuma dessas pessoas algemadas sendo conduzidas, não viram a imprensa na porta de pessoas em que a gente vai fazer buscar, não viram pessoas sendo abordadas com fuzil nas ruas. Essa é uma mudança de perfil, de comunicação, e que passa pelos valores da PF de eficiência, ética, integridade, inovação e imparcialidade.”
Dentre os diversos assuntos debatidos na entrevista destacaram-se as tentativas de ataques à democracia.
Sobre os atos 8 de janeiro de 2023 e a invasão na sede dos Três Poderes, em Brasília, Andrei afirmou que a corporação fez uma investigação muito consistente e apurou crimes de “altíssima gravidade” e que não considera “razoável que se fale em anistia para quem comete crimes dessa magnitude”. O diretor da PF também comentou que as investigações não trouxeram indícios de “mega-financiadores”, mas sim de um financiamento disperso em que diversas pessoas forneceram insumos, logística e recursos.
Sobre o inquérito realizado pela PF para investigar a tentativa de golpe de Estado durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Andrei classifica como um “documento contundente”.
“O relatório é contundente. Ele traz ali vários elementos de prova, e não são convicções dos investigadores, são provas que nós temos nos autos (…) são toda a sorte de informações, de dados, que nos levaram à conclusão da responsabilidade daquelas pessoas no âmbito policial”, declarou.
O inquérito indiciou mais de 40 pessoas, entre elas, o ex-presidente Bolsonaro e os ex-ministros Braga Netto e Augusto Heleno. O documento já está em posse da Procuradoria-Geral da República (PGR), que poderá arquivar ou oferecer denúncia contra os indiciados.
Outro tema citado na entrevista foi a regulação das redes sociais. Para Andrei Rodrigues, plataformas como X, Instagram e Facebook precisam de normas claras para evitar que sejam usadas como “terra de ninguém” para a prática de crimes.
“O que é crime no mundo real também é crime no virtual. Não estamos falando de censurar críticas ou memes, mas sim de combater práticas criminosas”, argumentou. A posição do chefe da PF vai ao encontro ao julgamento no STF sobre a responsabilização das plataformas por conteúdo ilegal postado por usuários.
O diretor da PF também criticou o tratamento dado aos 88 brasileiros deportados dos EUA na última sexta-feira (24/01), que desembarcaram no Brasil algemados e com correntes nos pés.
“Não há justificativas para que pessoas que não são presidiários, não oferecem risco e estão no próprio país sejam acorrentadas. É inadmissível que cidadãos brasileiros, ao retornarem ao próprio país, sejam tratados dessa forma. Essa questão envolve dignidade, soberania nacional e segurança aeroportuária”, afirmou.
A bancada do programa Roda Viva foi composta pela colunista de O Globo, Bela Megale, a repórter do Valor Econômico, Isadora Peron, o repórter do jornal O Estado de São Paulo, Fausto Macedo, o repórter da Agência Reuters, Ricardo Brito e o jornalista diretor do PlatôBR, Rodrigo Rangel.