Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio: A adoção do Setembro Amarelo junto às corporações policiais

A campanha nacional Setembro Amarelo é dedicada à prevenção do suicídio com o intuito de conscientizar a população sobre os processos de adoecimento emocional e psíquico que levam as pessoas a atentarem contra a própria vida. Iniciada no Brasil em 2015, a campanha é inspirada no Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, celebrado todo 10 de setembro, por iniciativa da Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP). Ao contrário de outras campanhas preventivas como o Outubro Rosa (câncer de mama) e Dezembro Vermelho (de AIDS), o Setembro Amarelo não é reconhecido oficialmente em âmbito nacional por meio de lei federal. Todavia, alguns estados e municípios tomaram a iniciativa de instituí-la oficialmente.

Segundo dados recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 32 pessoas se suicidam por dia no Brasil, o que significa que o suicídio mata mais brasileiros do que doenças como a AIDS e o câncer. O assunto é envolto em tabus, por isso, a organização da campanha acredita que falar sobre o mesmo é uma forma de conscientizar a população sobre os sintomas e a dinâmica de quem passa por ideações suicidas, podendo evitar situações extremas.

No âmbito das polícias,  os índices de suicídio são alarmantes e vem crescendo vertiginosamente. Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022, policiais cometem cinco vezes mais suicídios do que civis. Salários baixos, rotina desgastante, precariedade das condições de serviço, assédio de superiores e riscos inerentes à atividade são os principais inimigos dos profissionais. Há também a dimensão do “peso do herói” em que o profissional se cobra em excesso e desconta em si mesmo todo o seu sofrimento devido a uma cultura que incentiva a infalibilidade.

Os dados do Anuário ainda informam que o suicídio é a segunda maior causa entre agentes de segurança estaduais em todo o Brasil, perdendo somente para morte em confrontos fora de serviço. Para se ter uma ideia, a OMS considera a taxa de 10 suicídios para cada 100 mil habitantes como uma situação epidêmica e, no Brasil, a maioria das corporações policiais tem taxas que variam entre 21 e 30 casos.

Segundo a Diretoria de Gestão de Pessoas da Polícia Rodoviária Federal-PRF, o índice médio de suicídio entre membros da corporação passou de 18,5 %, em cerca de 2 décadas (2001-2020), para 34,8%, em apenas 2 anos (2021-2023), sem contar com o agravante de que, somente no ano de 2022, o suicídio foi a principal causa de morte de agentes da PRF ativos.

Preocupada em minorar essa assustadora estatística a instituição criou a Central de Acolhimento e Acompanhamento em Saúde da PRF (CAAS), uma rede emergencial de atendimento composta por psicólogos, psiquiatras e terapeutas que fazem o trabalho de acolhimento imediato aos policiais que estiverem passando por quaisquer tipos de problemas emocionais, stress ou enfermidades psíquicas.

Após estabilizada a crise, o policial pode procurar tratamento terapêutico contínuo por meio do Projeto Estratégico “Vida PRF”, lançado em 2021 com o objetivo de oferecer atendimento e orientação preventiva em saúde mental, buscando garantir a melhoria da qualidade de vida para os membros ativos da corporação. O projeto conta com mais de 400 psicólogos cadastrados e remunerados pela instituição para atender de forma gratuita os agentes policiais, presencialmente ou  virtualmente, em todo o território nacional. Os atendimentos são realizados por meio de uma triagem psicológica, feita sempre que há demanda por meio de link divulgado no site da PRF (https://bit.ly/3OeN31F).

De acordo com a PRF Thais Caetano, diretora da AMPOL e integrante/terapeuta do programa, o sistema é pioneiro e vem proporcionando excelentes resultados. “No início tivemos certa resistência e preconceito por se tratar de um programa de saúde mental. A gente sabe que no meio policial falar sobre conflito, sobre medo e dificuldades pode parecer fragilidade. Porém, muito pelo contrário, é sinal de evolução, de você querer se tornar uma pessoa melhor. Autoconhecimento é cura, é poder, é tornar tua vida mais leve, é ter relações melhores. Hoje a adesão ao programa é imensa e temos que aumentar o efetivo de profissionais e de recursos para dar conta da demanda.”

Outro programa que vem mostrando resultados consideráveis é o Rosa dos Ventos, da Polícia Federal. Idealizado pela Coordenadora Geral de Saúde do Departamento de PF e diretora da AMPOL, delegada Mariana Paranhos Calderon, o programa visa assegurar a melhoria da saúde física, mental e da qualidade de vida no trabalho dos servidores da instituição, buscando cumprir a meta nº 7 do Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS), que determina a diminuição em 30% do índice absoluto de suicídios dentro da PF até 2030.

Para a Presidente da AMPOL, dra. Creusa Camelier, as diversas iniciativas em prol da saúde mental e psicológica do policial “se revertem diretamente na qualidade dos serviços da segurança pública prestados à sociedade brasileira.”

Segundo Roberto Luiz Viñuales de Moraes, Chefe do Núcleo de Psicologia da Polícia Civil do Distrito Federal-PCDF, “as questões de ordem psíquica costumam ser negligenciadas por muitos policiais e muitas vezes tratadas com ironia e deboche. E quando estas situações ocorrem estes policiais acabam tendo vergonha e dificuldade em falar sobre o assunto”. Para Roberto o Setembro Amarelo significa “uma oportunidade para os órgãos de Segurança olharem de forma pontual para a questão do suicídio. Além disso trabalhos e tratamentos disponíveis pela PCDF são divulgados com maior intensidade aos policiais, o que acaba servindo como um alerta e conscientização. É também um período de promoção de eventos que acaba envolvendo muito debate, perguntas e depoimentos sobre a saúde mental para uma categoria que, por falta de esclarecimento, acredita estar imune a estas questões”

Origem do Setembro Amarelo

O Setembro Amarelo começou nos EUA, em 1994, quando o jovem Mike Emme, de 17 anos, cometeu suicídio. Seus pais e amigos não perceberam que o jovem tinha sérios problemas psicológicos e não conseguiram evitar sua morte. Mike era um rapaz muito habilidoso, conhecido entre os colegas como “Mustang Mike” por ter restaurado sozinho um automóvel Mustang 68, pintando-o de amarelo. No dia do velório, foi feita uma cesta com muitos cartões decorados com fitas amarelas acompanhados de uma mensagem: “se você precisar, peça ajuda”. A iniciativa foi o estopim para um movimento importante de prevenção ao suicídio, pois os cartões chegaram realmente às mãos de pessoas que precisavam de apoio. Em consequência dessa triste história, o laço amarelo foi escolhido como símbolo da luta contra o suicídio.

Se pensar em suicídio busque ajuda. Se conhece alguém que não está bem, preste apoio

É importante que as pessoas que estejam passando por momentos de crise busquem ajuda. O ideal é um acompanhamento psicológico, além do apoio da família e dos amigos. Para isso, é essencial que as pessoas consigam falar sobre o que sentem. Se você estiver com sérios problemas e chegar a considerar o suicídio, pode procurar ajuda entrando em contato com o com os programas disponibilizados pela sua corporação ou ligando para Centro de Valorização à Vida (CVV) por meio do número 188 ou do site www.cvv.org.br.

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